Estima-se que somente 1% de todo óleo que é descartado de cozinhas, resultante de frituras, tanto residenciais como comerciais – principalmente de bares, lanchonetes e restaurantes – em Nova Trento e no Vale do Tijucas é recolhido para reuso. Os outros 99% tem destino incorreto, com inúmeras consequências para a natureza. A estimativa é do empresário Valter Pereira Batista, dono da pequena empresa Reutilze Oil, instalada no bairro Mato Queimado.
Aberta em 2019, a empresa está ampliando sua área. Atualmente, além de Nova Trento, onde começou com 20 estabelecimentos parceiros, tem presença em São João Batista, Major Gercino, Canelinha, Tijucas e Brusque e com participação de aproximadamente 200 estabelecimentos diretos e ativos. Em troca do óleo de fritura, a Reutilize Oil oferece detergentes. Em futuro próximo pretende atuar também no litoral, especialmente nas cidades de Porto Belo, Itapema e Bombinhas.
Junto aos atuais parceiros, Valter recolhe um volume médio mensal de 4 mil litros que, em sua estimativa, representa apenas 1% de todo o óleo de cozinha gerado, enquanto os 99% restantes tem um destino incorreto. Tal volume a inicialmente por um pré-processo na estação de tratamento no bairro Mato Queimado, onde são separadas todas as impurezas (água e resíduos sólidos de frituras). Desse processo resultam cerca de 2.700 litros que a Reutilize vende para uma empresa especializada em refino, de Brusque, onde vira um biodiesel ecológico, com 80% a menos de poluentes comparativamente ao conhecido diesel.
Desafios – Apesar da ação da Reutilize ter a simpatia dos ecologistas, ela sofre com a concorrência desleal, de empresas de fora da região que não tem interesse nenhum em dizer sua destinação que, até onde “O Trentino” conseguiu apurar, pode não ser a produção de biodiesel.
Um dos prováveis usos tem sido como matéria-prima, junto com soda cáustica, para a produção de detergentes e a utilização destes para lavação de louças em estabelecimentos ligados ao ramo de alimentação, como restaurantes, lancherias e pizzarias. Na lavação, resíduos de soda cáustica e do próprio óleo podem ficar impregnados nos talheres e nos utensílios (como pratos) usados pelos consumidores, o que pode ter consequências para sua saúde.
Outro desafio da Reutize é replicar no âmbito municipal a lei estadual 14.330/2008, que exige das empresas do ramo certificados de destinação e alvará sanitário do município onde exerce a atividade. Uma das intenções da empresa é formar uma parceria com as escolas municipais para que seja recolhido, com a participação direta dos estudantes, o óleo de cozinha em suas residências.
Descarte incorreto – Quando descartado incorretamente (o hábito mais comum da população é jogá-lo pela pia), o óleo gera diversos impactos severos para a natureza e o meio ambiente, já que percorre todo o sistema de esgoto, prejudicando os encanamentos residenciais e os geridos pelas empresas públicas de saneamento básico. Além desse estrago, quando jogado em lugares que não são apropriados para a coleta desse tipo de resíduo, contamina o solo e os lençóis freáticos, fonte de grande parte da água potável do país.
Levando em consideração que um litro de óleo de cozinha usado pode poluir até 25 mil litros de água, temos uma estimativa assustadora quando ligamos esses dados ao fato de que o brasileiro descarta irregularmente 700 milhões de litros de óleo por ano. Ao chegar nos rios e mares, também interfere na biodiversidade desse espaço. Como não se mistura com a água, permanece na superfície aquática bloqueando entrada de oxigênio e luz solar, o que mata todas as plantas e os seres vivos.
No entanto, todos os problemas relacionados ao descarte incorreto do óleo de cozinha podem ser resolvidos com um simples ato. Quando levado a um ponto de coleta, e dali destinado à reciclagem, evita-se que chegue à natureza e provoque tantos problemas. Com a reciclagem ele pode ser transformado em diversos produtos como sabão, ceras, tintas, massa de vidraceiro e farinha básica para ração animal, entre outros.
